Os pais do andebol

No Andebol de formação, a presença dos pais é frequente e desejável, mas os pais, e as mães, precisam distanciar-se e perceber que quando estão na bancada, do outro lado não estão as filhas e os filhos: estão atletas. Apoiar os filhos na prática desportiva pode ser, e seguramente é, uma experiência muito gratificante, alegrando-nos com o seu desenvolvimento físico e psíquico, e outras vezes pode ser irritante, quando os vemos ser injustiçados nos resultados, ou quando os resultados não são aqueles que desejamos.

Apoiar sem ser intrusivo

O jogo é da atleta, e os resultados também, por isso é bom incentivar os filhos e mostrar entusiasmo pelos seus esforços, assistindo aos jogos, estando presente e celebrando os progressos feitos, independentemente dos resultados. É importante evitar colocar pressão para ter um bom desempenho ou vencer, porque isso é uma fonte de ansiedade. Uma coisa é os atletas compreenderem o objectivo de uma competição – e de como isso tem reflexos no resto da vida -, outra diferente é sentirem-se forçados a vencer, como se o apoio dos pais dependesse disso. Deixe os atletas desfrutarem do desporto e desenvolver gosto pela modalidade.

• Convém: aplaudir o esforço, não apenas os resultados
• Não convém: gritar instruções da bancada ou criticar o desempenho à frente de outros

Respeitar os treinadores e os árbitros

É difícil, sim. Os treinadores são sempre culpados dos maus resultados, e os árbitros são todos vendidos. Já sabemos. E talvez aconteça, aqui e ali, mas nem sempre, nem nunca. Os treinadores e os árbitros têm uma função a cumprir, e é importante confiar na sua experiência e nas suas decisões, mesmo que não as compreendamos ou não concordemos. Afinal, são eles que estão lá, não são os pais. Por outro lado, estar a questionar constantemente as decisões ou os métodos de treino, ou a arbitragem, desrespeita a autoridade deles, e compreender as posições de autoridade é relevante para a vida futura dos nossos filhos: vão ter de lidar com isso para sempre, e vão encontrar chefes e outras pessoas de quem não gostarão, mas precisarão respeitar. E mesmo que algum árbitro esteja cego para um lado e muito atento para outro, só existe mesmo uma maneira de ultrapassar isso: jogar tão bem, que até um cego veja.

• Convém: agradecer aos treinadores o tempo e esforço, e se tiver preocupações com o método ou opções, aborde-as em privado de modo respeitoso.
• Não convém: confrontar os árbitros durante os jogos ou discutir as suas decisões na presença dos atletas ou de outros pais, o que apenas acicata os ânimos e perturba as decisões e performance.

Demonstrar bom desportivismo

Somos todos muito humanos, e há coisas que custam a engolir, toda a gente sabe disso. Mas a verdade é que as crianças aprendem comportamentos com os pais, e mostrar respeito pelos adversários, ser gracioso na vitória ou na derrota, humilde perante os resultados, é um bom exemplo que fará dos atletas melhores adultos. É boa ideia evitar comentários negativos sobre outros jogadores ou equipas, ou arbitragem. Somos todos pessoas. Umas melhores, outras piores, mas podemos ajudar a melhorar o futuro.

• Convém: felicitar a equipa adversária e incentivar os filhos a cumprimentar os adversários, quer perca, quer ganhe.
• Não convém: vaiar ou provocar os outros jogadores ou equipas, porque isso dará um mau exemplo aos atletas e criará um mau ambiente desde o começo dos jogos.

Apoiar a independência dos atletas

A prática desportiva é uma excelente ferramenta para construir adultos sólidos, capazes. Deixe os filhos assumir o controlo da sua experiência desportiva e permita que ele comunique com os treinadores, que organize o seu equipamento e tome as decisões que estejam ao seu alcance sobre a sua participação desportiva. Isso ajudará os seus filhos a desenvolver a sua responsabilidade e confiança.

• Convém: incentivar os filhos a falar com os treinadores se tiverem dúvidas.
• Não convém: falar pelos seus filhos ou intervir em todas as situações, deixe-o aprender a defender-se.

Manter as coisas em perspectiva!

Pode acontecer que os seus filhos sejam mesmo bons e cheguem longe no desporto, mas será essa a regra? O desporto é apenas uma parte da vida dos seus filhos, e embora possa ensinar-lhe muito, não deve sobrepor-se aos estudos, às relações sociais ou ao bem-estar físico e psíquico. Se os seus filhos quiserem experimentar outras modalidades – ou parar – apoie a decisão. Afinal, é pouco provável que ele, ou ela, venham a fazer vida profissional na modalidade. No entanto, não deixe de fazer os seus filhos notar que um desporto de equipa é uma responsabilidade, porque a sua presença e o seu empenho têm impacte no resto da equipa. Se você, ou o seu filho, não estiverem comprometidos com os horários dos treinos e dos jogos, talvez seja melhor escolher um desporto individual.

• Convém: conversar sobre os interesses e objectivos dos filhos, para garantir que estão a jogar por si mesmos e não para cumprir os sonhos… dos pais.
• Não convém: pressionar para que especializem num desporto demasiado cedo, ou forçar a continuar se a prática desportiva já não está a ser uma fonte de prazer.

Acima de tudo, ambiente positivo

A sua atitude como pai, ou mão, vai moldar a experiência dos filhos. Seja uma fonte de motivação e estabilidade, quer eles percam, quer ganhem, quer fiquem a aquecer o banco de suplentes. Evite as críticas pós-jogo, a não ser que os filhos peçam uma opinião sua, mas nesse caso ofereça sugestões construtivas e puxe pelo positivo. Não se trata de criar florzinhas-de-estufa incapazes de lidar com a crítica, trata-se de oferecer um caminho para melhorar.

• Convém: estabelecer uma rotina que inclua descanso, boa alimentação e equilíbrio na vida para apoiar o desempenho e a saúde.
• Não convém: estar sempre a relembrar os erros e as derrotas, o que interessa mais é puxar pelo que correu bem e mostrar como pode melhorar.

Os pais têm uma oportunidade única de moldar a experiência desportiva dos filhos, transformando-a numa jornada que desenvolve carácter, resistência à contrariedade e alegria. Ao serem apoiantes, respeitosos e focados no desenvolvimento em vez dos resultados, podem ajudar os filhos a prosperar no desporto e na vida. Mantenha-se envolvido, mas deixe-os liderar – a jornada desportiva é deles.